É muito comum ouvir pessoas se
queixando que se sentem muito sozinhas, seja por falta de alguém pra conversar,
falta de apoio psicológico na toma de decisões ou mesmo falta de afinidade com
o meio em que vivem.
Este
sentimento surge quando o individuo se depara com a dificuldade de encontrar
alguém com quem possa compartilhar momentos e experiências, sejam boas ou
ruins.
Por que
isto ocorre?
Por que as
pessoas se sentem solitárias, mesmo quando estão rodeadas por tantas outras?
Não existe
UMA resposta pronta.
As
respostas variam de indivíduo a individuo, e de caso a caso. Mas é possível
fazer algumas suposições partindo do macro para o micro.
Suposições
apenas, ok? Não verdades absolutas.
Se
considerarmos que nas sociedades ocidentais, onde o capitalismo selvagem
impera, fica claro que a vida em sociedade é marcada pela competitividade. Isto
não é novo; o liberalismo que veio na rasteira da revolução industrial do
século XVIII reforçava (e impunha) este modelo de individualismo, gratificando
aqueles que produziam mais de forma individual, em detrimento da produção
coletiva. Com a expansão do capitalismo nos países ocidentais, esta forma de
relacionamento passou a ser vivenciada como se fosse algo natural, extrapolando
o campo das relações de trabalho e invadindo as relações mais íntimas.
Desta
forma, as pessoas passaram a trabalhar mais e se relacionarem menos. Pra
compensar esta inversão, começaram a consumir mais, e a presentear seus entes
queridos com produtos cada vez mais modernos.
Mas como
isto afeta as microrelações?
A partir
do momento em que as pessoas começam a se relacionar por meio da mediação de
bens de consumo, pode ocorrer algumas vezes, de se esquecerem o verdadeiro
sentido da relação. Estamos tão habituados a viver em uma sociedade
competitiva, que em dados momentos, começamos a competir com nossos entes queridos,
ou escolher se relacionar somente com pessoas “do mesmo nível” intelectual,
social, etário, étnico, etc., pois isto supostamente permitiria um relacionamento
mais estável. (Notem que estou sendo irônica neste parágrafo)
Observemos
que isto limita bastante as escolhas de parceiros seja no âmbito profissional,
acadêmico, afetivo, familiar, etc. uma vez que a partir do momento em que se
escolhe relacionar com outro com base em detalhes minuciosamente observados, é
possível que se feche para outras possibilidades e daí decorre o inevitável
sentimento de solidão, pois é quase impossível manter uma relação (seja lá de
que nível for) com alguém que atenda todas as expectativas, afinal “defeitos e
qualidades todo mundo tem”.
Daí a
importância de rever certos conceitos antes, durante e depois de alguns
relacionamentos. Será que de fato é importante se relacionar apenas com pessoas
“iguais” (pares)? O que pesa mais na hora de escolher as amizades? O que o
indivíduo tem, ou o que o indivíduo É?
Estou
tentando dizer que o excesso de seletividade às vezes atrapalha na hora de se
relacionar, pois nestes casos a tendência é focalizar os defeitos e não as qualidades
do outro.
Claro, que
existem casos de pessoas que não conseguem se relacionar pelo motivo oposto: acreditam
que não possuem qualidades suficientes para “agradar” ao outro e pra evitar se
deparar com a rejeição, tendem a se afastar do convívio alheio, mantendo-se a
uma distância relativamente confortável.
Digo que é
confortável, pois na medida em que este distanciamento se tornar
desconfortável, a tendência é que haja uma mobilização no sentido de rompê-lo.
Neste ponto, os indivíduos começam a busca por ajuda terapêutica, ou aconselhamento
para que possam se relacionar com mais qualidade.
Não há
fórmula mágica para corrigir as maneiras de se relacionar para que fique “legal
pra todo mundo”.
Sempre hão
de existir os insatisfeitos, os intransigentes, os ciumentos, os invejosos, os
competitivos, os críticos; mas sempre haverá os compreensivos, os alegres, os
amáveis, os maleáveis. Onde eles estão? Não sei. Mas talvez todos eles estejam
dentro da mesma pessoa. Depende do que você procurar.
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