Gargalhadas e lágrimas
De perto fomos quase nada
Tipo de amor que não pode dar certo
na luz da manhã
(Cazuza. Eclipse Oculto)
É comum chamar de
"amor" as pessoas que se amam (Amor, quer sair pro jantar?); pode ser
usada para qualificar algo (Que amor de vestido!), ou exaltar as qualidades de
alguém (A professora é amor).
Entretanto não é
apenas a palavra "amor" que caiu na banalização, mas também a
afetividade tornou-se fluída na pós-modernidade. O Sociólogo Zigmunt Bauman
trata deste assunto em seu livro "Amor Líquido" (recomendo a leitura)
onde trata da forma com que as relações se tornaram fluidas e inconsistentes no
mundo globalizado.
Segundo Bauman:
Abandonar
e destituir foram celebrados, por um breve período, como a derradeira
libertação do sexo da prisão em que era mantido por uma sociedade patriarcal,
puritana, desmancha-prazeres, hipócrita e ainda por cima desafortunadamente
vitoriana. Aqui estava, afinal, um
relacionamento mais puro que a pureza, um encontro que não servia a outro propósito
senão o prazer e a alegria. Uma felicidade de sonho, sem restrições, sem medo
de efeitos colaterais e portanto alegremente cega às suas consequências. Uma
felicidade do tipo "satisfação garantida ou seu dinheiro de volta" A
mais completa encarnação da liberdade, tal como definida pela sabedoria e pela
prática populares da sociedade de consumo. (2004, p. 30)
Na concepção de
Bauman, a banalização do amor se relaciona com a consagração da liberdade
afetiva, onde o que é importa é colecionar conquistas e cada parceiro afetivo é
um troféu. Trata-se de um “consumismo de gente”, quando as pessoas são vistas
como mercadorias afetivas de acordo com seus atributos e as relações são
fragmentadas. Não há mais tempo, nem interesse para promover a intimidade; a
proximidade só existe enquanto o outro tiver algo a oferecer, ou até que
aparece uma oferta mais gratificante no “mercado afetivo”.
A banalização do
amor ocorre quando as pessoas se descartam mutuamente. Basta que haja um ponto
de vista diferente e o romance que poderia dar certo afunda! Ou seja, quando um
dos pares não atende o que foi idealizado corre o risco de ser colocado de
lado. E assim inicia-se uma nova busca, por parceiros que atendam os “requisitos
básicos”.
Esta prática é
muito comum nas redes de relacionamento virtuais: as pessoas usam categorias
para se conhecerem: se quer um parceiro
universitário, irá nas redes sociais ou chats onde é possível encontrá-los e
com certeza irá conhecerá muitas pessoas com as mesmas afinidades. Mas isso não
é garantia de êxito na relação, porque a partir do momento em que foi feita uma
categorização, é bem provável que a relação se desenvolva a partir dela.
O risco que se
corre neste caso é vincular a imagem da pessoa real à idealizada, uma vez que o
amor baseado em categorias desconsidera outras formas de ser e pensar da pessoa
escolhida. Se você conseguir perceber
que o outro é um indivíduo que vai além das categorias pré-estabelecidas, desvinculada
de supostos conceitos, certamente poderá vivenciar uma relação que não caia na banalização,
ou quem sabe, um grande amor!