O filósofo Bauman (2007) na sua obra “Vida
Líquida”, ao tratar deste momento sócio-histórico aponta que:
O solo sobre o qual nossas expectativas de vida têm de se apoiar é reconhecidamente
instável – tal como nossos empregos e as empresa que os oferecem, nossos
parceiros e redes de amizade, a posição que ocupam na sociedade e a auto-estima
e autoconfiança dela decorrentes. O “progresso”, que já foi a mais extrema
manifestação de otimismo radical, promessa de felicidade universalmente
compartilhada e duradoura, deslocou-se para o pólo de previsão exatamente
oposto, não-tópico e fatalista. Agora significa uma ameaça de mudança
inflexível e inescapável que pressagia não a paz e o repouso, mas a crise e a
tensão contínuas, impedindo qualquer momento de descanso; uma espécie de dança
das cadeiras em que um segundo de desatenção resulta em prejuízo irreversível e
exclusão inapelável. Em vez de grandes expectativas e doces sonhos, o “progresso”
evoca uma insônia repleta de pesadelos de “ser deixado para trás”, perder o
trem ou cair da janela de um veículo em rápida aceleração. Incapazes de reduzir
o ritmo espantoso da mudança, muito menos de prever e controlar sua direção,
nós nos concentramos no que podemos ou acreditamos poder, ou no que nos
garantem que podemos influenciar: tentamos calcular e minimizar o risco de nós
pessoalmente, ou das pessoas que atualmente nos são mais próximas e mais
queridas, sermos atingidas pelos incontáveis e indefiníveis perigos que o mundo
opaco e seu futuro incerto nos reservam. (pp. 91- 92)
Em conseqüência, este “progresso” citado pelo autor trouxe um contexto
marcado pela competitividade em diversos âmbitos sociais:
- No
trabalho - onde os indivíduos geralmente correm contra o tempo para
garantir o sustento. Existe uma necessidade imperiosa de dar o máximo para
garantir o mínimo.
- Nos
ambientes acadêmicos - desde a pré-escola até a livre docência, os
indivíduos são avaliados por sua "competência acadêmica". Não
importa muito sua força de vontade, seu desejo de saber, nem seus limites,
mas sim a nota que irá constar no seu histórico.
- Nas
redes sociais - é frequente constatar que algumas pessoas não medem
esforços para serem notados. Para conseguir este intento exibem pequenos
triunfos, pequenas aquisições, pequenas alegrias, ou muito sofrimento.
- Nos
relacionamentos familiares - as disputas familiares são marcadas pela
competição por afetividade. É comum presenciar indivíduos disputando
acirradamente a atenção de outro membro da família, ou mesmo alguns bens
materiais.
Esta competitividade em praticamente todos os contextos sociais, conduz
automaticamente à dificuldade de
relacionamentos, uma vez que os
indivíduos desconfiem uns dos outros, e sejam levados a se encarar como se
fossem adversários.
O momento é marcado pelo consumismo e preconceitos de toda natureza,
onde toda e qualquer tentativa de autenticidade é vista como indício de loucura
ou de insubordinação.
Neste cenário competitivo, algumas pessoas correm na busca de aceitação
e para atingir este fim assumem o papel de “mercadoria”, tendo seu
valor agregado àquilo que aparenta ser e àquilo que tem, e não aquilo que
realmente é. Para Bauman (2007) nesta “vida
de consumo” os indivíduos (e as mercadorias) perdem sua utilidade e seu valor
rapidamente “e portanto o viço, a atração, o poder de sedução e
o valor enquanto são usados”. (p 17).
Sabe-se que o ser humano é um ser gregário, que depende de seus pares
para sobreviver. Nossos ancentrais disputavam abrigo e alimento, e para
garantir estas facilidades viviam em bandos. Aparentemente, na atualidade
estamos vivendo o momento oposto: somos convocados a viver "cada um pra
si", e ensinados a tirar do outro o pouco que tem.
Sobre isto, Bauman
(2007) salienta que:
Cada membro da
sociedade individualizada encontra alguns obstáculos no seu caminho para a
individualidade de fato. Essa não é fácil de conseguir, muito menos de
preservar. Entre a rápida sucessão de fichas simbólicas de identidade comumente
usadas e endêmica instabilidade das escolhas que recomendam, a busca da individualidade
significa uma luta para toda a vida. (p.35)
E agindo desta forma, imaginam que
sua autonomia e sua individualidade estejam garantidas.
Infelizmente isto não condiz com a realidade. Nesta “vida líquida”
ninguém está a salvo. Todos estão sujeitos a julgamentos, críticas,
competições.
Temos que correr contra o tempo, sem tempo para encontrar a
nós mesmos. O mundo nos tira da zona de conforto.
Nenhum homem é uma ilha. Temos que nos adequar para viver este
momento social da melhor forma possível, buscando formas de relacionamento que
aliviem a solidão e ao mesmo tempo garantam a individualidade, a privacidade e
a autenticidade.
Bauman, Zygmund. Vida líquida.
Tradução. Carlos Alberto Medeiros. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007
- Psicóloga SP: psicóloga perto de mim, psicólogos em s.Paulo
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